terça-feira, 8 de abril de 2008

Célula-tronco 'do mal' pode ser a chave para vencer câncer, dizem estudos

Tumores possuem células que garantem seu ressurgimento e invasão de outros tecidos.Atacá-las com precisão seria uma maneira de eliminar a doença em definitivo.

A chave para evitar que o câncer volte a atacar pessoas aparentemente curadas e se espalhe por todo o organismo pode estar num tipo assustador e ainda pouco conhecido de células-tronco, afirmam cientistas. Essas entidades, que aparentemente funcionam de forma muito semelhante às células-tronco "normais" que montam ou reparam órgãos, seriam responsáveis pela sobrevivência dos tumores diante de tratamentos como a quimioterapia e a radioterapia.

Um dos pesquisadores que estão tentando entender o funcionamento das células-tronco tumorais é o biólogo Oswaldo Keith Okamoto, professor da disciplina de Neurologia
Experimental da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "Trata-se de um novo conceito, que está sendo abordado cada vez mais em publicações científicas no mundo todo, e o grande interesse por trás disso é encontrar novos alvos para medicamentos contra o câncer", explicou Okamoto ao G1.

Segundo o pesquisador da Unifesp, as primeiras pistas de que existiam células-tronco cancerígenas vieram do estudo de doenças como a leucemia, que é uma espécie de câncer do sangue -- nessa doença, surge uma enorme quantidade de células sangüíneas aberrantes. Mais tarde, porém, começaram a aparecer indícios parecidos em tumores sólidos, como os de mama. O consenso que está emergindo é que quase todo tumor abriga análogos dessas células, em proporções -- subpopulações celulares -- muito pequenas.

Por que elas são chamadas de células-tronco? Para começar, a analogia é funcional, diz Okamoto. As células-tronco são caracterizadas por duas capacidades principais: conseguem renovar a si mesmas, produzindo novas células-tronco; e também podem dar origem a outros tipos de célula ou tecido, através da chamada diferenciação, ou especialização celular. Ambas as características estão presentes nas células-tronco tumorais

>Semelhança molecular<

"Além disso, dois trabalhos recentes que nós fizemos mostraram semelhanças entre os genes ativos no DNA das células-tronco tumorais e no DNA das células-tronco hematopoiéticas [as que dão origem aos vários tipos de células do sangue]", conta Okamoto. Aparentemente, a diferença é que as células-tronco tumorais são um exemplo descontrolado das mesmas propriedades das células-tronco de tecidos normais, que "sabem quando parar", multiplicando-se e diferenciando-se apenas na medida demandada pelo organismo saudável.

Qual a origem dessas células-tronco malignas? Ainda não se sabe. Pode ser que, no começo, elas sejam apenas células do tecido que desenvolveu o câncer as quais, por algum motivo, sofreram uma "desdiferenciação" -- ou seja, voltaram ao estado menos especializado que é típico das células-tronco. Por outro lado, também poderiam ser células-tronco o tempo todo -- até sofrerem mutações que lhes dariam propriedades cancerosas.

As células-tronco cancerígenas representam talvez o principal desafio às tentativas de curar a doença, porque é muito difícil extirpá-las. "A recidiva [o retorno do tumor após sua retirada inicial] é freqüente porque seria preciso matar todas as células-tronco tumorais. Mas basta que uma centena delas sobreviva para gerar um novo tumor", diz Okamoto. Se tratamentos como cirurgia, radioterapia e quimioterapia eliminarem todas as células cancerosas normais, mas deixarem para trás as células-tronco, o problema pode recomeçar.

"E as células-tronco cancerígenas têm características que as ajudam a resistir ao tratamento. Elas possuem mais canais de íons, estruturas que lhes permitem bombear para fora da célula os medicamentos. E conseguem reparar seu DNA com mais facilidade. Já que a radioterapia mata as células do tumor causando danos ao seu DNA, isso dá mais uma vantagem às células-tronco", afirma o pesquisador da Unifesp. Para completar, elas parecem ter facilidade para circular de um tecido para o outro, causando a chamada metástase -- o espalhamento do câncer para regiões do corpo diferentes do local onde ele se originou.

>Alvos<

O que os cientistas estão fazendo nesse momento é estudar em detalhes os traços definidores desse tipo de célula-tronco. "É difícil, porque elas são pouco numerosas e complicadas de obter", diz Okamoto. Por enquanto, não há testes em humanos de drogas visando especificamente as células-tronco tumorais, mas achar uma maneira de destruí-las pode significar maiores chances de cura do câncer, com riscos muito mais baixos de recidiva ou metástase.

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