terça-feira, 8 de abril de 2008

Gene 'Poderoso Chefão' controla avanço do câncer de mama, afirma estudo

Ativação de trecho de DNA muda funcionamento de outros mil genes em tumor mamário.
Com isso, doença fica mais agressiva e invade órgãos; desativar gene reverte o efeito.

Mamografia mostra seio normal (à direita) e com tumor de mama

A sigla SATB1 tem boas chances de se tornar conhecida -- e temida -- entre todas as mulheres com suspeita de câncer de mama. Se um novo estudo estiver correto, o gene designado pela sigla é um dos fatores mais importantes para a agressividade e a capacidade invasiva desse tipo de tumor, aumentando muito as chances de que o câncer se espalhe para outras regiões do corpo. E, se for possível desativar o SATB1, também surgirá a oportunidade de impedir esse ataque e trazer as células mamárias de volta ao normal.

O papel do gene SATB1 como um "poderoso chefão" do câncer de mama está sendo elucidado por uma equipe de pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley e do Centro do Câncer Fox Chase, ambos nos Estados Unidos. Em experimentos com células humanas e camundongos, publicados na edição desta semana da revista científica "Nature", eles mostraram a influência do SATB1 por uma imensa rede de DNA. São quase mil genes cuja ação é alterada pelo "poderoso chefão", e o resultado final é um aumento impressionante da agressividade do câncer de mama.


"É como uma chave que abre a porta para muitos processos biológicos -- nesse caso, os processos relacionados com o comportamento mais agressivo do tumor", compara o médico argentino naturalizado americano José Russo, um dos autores do estudo.


Organizador do genoma

O trabalho foi coordenado por um casal de japoneses, formado pela pesquisadora Terumi Kohwi-Shigematsu e seu marido Yoshinori Kohwi, ambos trabalhando na Califórnia. Para Kohwi-Shigematsu, a melhor maneira de definir o SATB1 é considerá-lo um organizador do genoma. "Ele é um regulador-mestre, sintonizando os padrões de funcionamento dos genes ligados ao surgimento de metástase e induzindo o crescimento dos tumores", explica ela. A metástase é o espalhamento do câncer para regiões distantes do local onde ele apareceu inicialmente -- um evento muito temido, porque fica bem mais difícil controlar a doença quando ela avança pelo corpo.

O SATB1 parece manipular seus companheiros porque a proteína codificada por ele cria estruturas em forma de "gaiola" em volta dos demais genes, de forma que alguns trechos de DNA são "ligados" e outros são "desligados" em massa, de uma vez só. Os pesquisadores conseguiram discernir alguns dos efeitos desse processo: as células de câncer de mama cujo SATB1 está ativo se multiplicam mais rápido. Além disso, têm imensa facilidade em cair na corrente sangüínea e atingir outros órgãos, causando metástases. "É definitivamente o gene mais importante para metástases entre os estudados até hoje", diz a pesquisadora japonesa.

Isso significa que a ativação do gene vai realizar o mesmo truque maligno em outros tecidos? Não necessariamente. "Sabemos que ele é o vilão no câncer de mama. Nas células T [células de defesa do organismo], ele ativa as citocinas [substâncias importâncias para a reação do corpo a um invasor]. E temos observações preliminares que indicam sua ação nos tumores de pulmão e cólon", afirma Kohwi-Shigematsu.

Para a pesquisadora, o gene pode se tornar um alvo importantíssimo para novos medicamentos contra o câncer de mama. "Por enquanto, porém, o uso mais direto dele vai ser como uma ferramenta de prognóstico, para saber qual paciente vai precisar de um tratamento mais agressivo", explica a japonesa. É uma tendência importante nos estudos genéticos contra o câncer. Sabendo quais genes devem gerar metástase, os médicos podem estimar com antecedência qual paciente terá mais dificuldades no tratamento e, portanto, dar atenção especial a ela.

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