sexta-feira, 25 de abril de 2008

Vida: Idosos especiais..


Contrariando expectativas, pessoas com síndrome de Down chegam à terceira idade esbanjando alegria e saúde

Eles estão chegando à terceira idade, contra tudo e contra todos os prognósticos médicos de que pessoas com síndrome de Down não alcançariam nem mesmo a adolescência e “morreriam dormindo”. Rodeados pelo afeto da família, Elizabeth de Fátima Perona faz 53 anos em 1º de maio; Fernando Monteiro de Barros vai completar 50 em 7 de julho, e Herbert Geraldo da Silva 42 no dia 13. Há 50 anos, a expectativa de um recém-nascido com Down era de apenas 18 anos. Hoje é de 56, enquanto pessoas ditas normais já ultrapassam os 75.

A medicina é responsável por uma maior expectativa de vida, mas o amor continua sendo o remédio mais eficaz nas famílias que acolhem, sem preconceitos, os filhos Down. Quando Herbert nasceu, a mãe Izabel da Fonseca Silva, hoje com 82 anos, não sabia nada sobre o acidente genético que ocorre quando o cromossomo 21, em vez de ser formado pelo par normal, ganha um terceiro elemento. Mãe de 10 filhos normais, Izabel nem imaginava que, com a idade, a mulher tende a gerar filhos com Down, pois o óvulo envelhece. Muito menos de que com seus 42 anos, na época, a probabilidade aumentaria: de cada 400 bebês nascidos de mães com mais de 35 anos, um tem a alteração genética.

Para ela, a chegada de Herbert, ou Tibeto, como preferem chamá-lo, foi de muita alegria e emoção. “Para mim, meu caçula era igual aos outros. Eu o recebi com todo o amor. Foi uma festa. Só reparei que ele tinha uma boca pequena, que não dava nem para mamar direito”. Antes de sair do hospital, Izabel recebeu a notícia de que ele tinha problemas, que não duraria muito tempo e que iria morrer dormindo como um passarinho. “O susto foi tanto que meus outros filhos iam de cinco em cinco minutos no quarto, para ver se o irmãozinho estava respirando.”

Herbert sobreviveu e já exibe os primeiros cabelos brancos, mas raramente fica gripado. O convênio médico pago pelos irmãos é usado para o controle da tireóide e da glicose. Nem problemas cardíacos, nem redução de anticorpos, leucemia, Alzeimer ou doenças que acometem algumas pessoas com a síndrome. Herbert é ágil e independente. Anda de ônibus sozinho, arruma o quarto, tem paixão pelo Atlético e vive agarrado a uma agenda só com nomes de mulheres. Nos fins de semana, fica horas no banheiro caprichando na barba, pois vai atender a uma série de convites para almoçar fora.

O único defeito de Herbert é que ele gosta de comer muito, de preferência pizza, churrasco, salgados, cachorro-quente, que lhe garantem 120 quilos para apenas 1,5 metro, mas que não o impedem de levar uma vida ativa. “A gente faz o que ele gosta. Todos os irmãos, netos, bisnetos, cunhados e moradores do bairro Caiçara são apaixonados por ele, que tem amigos onde vai”, diz a mãe, com orgulho.

Com o crachá de fiscal da linha 9403, Caiçara/Paraíso, concedido pelos motoristas, Herbert vai contribuindo para as estatísticas de longevidade das pessoas com síndrome de Down. “Não tenho medo de ir embora antes dele, porque, com certeza, Herbert continuará sendo muito bem cuidado pelos irmãos. Mas eu não saberia viver sem ele, pois é a alegria da casa e dos meus dias”, confessa Izabel.

Nenhum comentário: